quarta-feira, 31 de março de 2010

Jornalismo Literário ou New Journalism.


Ao mestre Capote, com sangue frio.

Após o julgamento do casal Nardoni, responsável pela morte da menina Isabella, ambos foram considerados culpados e encaminhados para a penitenciária onde cumpriram, resignados, a sua pena. Alexandre trabalhava no almoxarifado, sempre quieto, e Ana Paula Jatobá lia a Bíblia diariamente. Não se sabia se tratava de uma tentativa de se redimir perante Deus ou a sociedade por tirar a vida de uma criança indefesa, visto que o casal jurava inocência, ou se agir daquela maneira fazia parte da construção de um perfil exemplar que contribuísse no pedido de recurso. A história dos Nardoni foi esquecida, aos poucos, sendo lembrada somente no dia em que Isabella faria aniversário, mas cada vez com menos alvoroço, menos furor, até surgir no rosto dos ancoras que davam a notícia, nos anos posteriores, um sorriso. Passaram a dizer assim: e hoje, a menina Isabella completaria dez anos. Quinze anos. Sorrindo.

Após onze anos de prisão, o casal Nardoni já poderia cumprir a pena em regime semi-aberto, quando ocorreu na penitenciária do Tremembé uma rebelião. Os presos se organizaram, fizeram motins, queimaram colchões, cortaram a garganta de guardas e chegaram a uma resolução curiosa: iriam assassinar Alexandre Nardoni.

Às 18:00 daquele dia, dois presos, Josimar Melo da Silva, mais conhecido como ‘o Carrasco’ e o outro um travesti que se identificava por Aninha Jatobá (sugestivo, não?) arrastaram Alexandre pelos corredores do presídio e, com as mãos ao redor de seu pescoço, tentaram sufocá-lo. Quando os olhos de Alexandre ficaram injetados de sangue e seu rosto começava a se desfigurar daquele modo que somente as pessoas que morrem sem ar ficam, Aninha Jatobá soltou seu pescoço. O Carrasco carregou Alexandre alguns lances de escada no colo, levando-o para o topo do pavilhão 1 do presídio. Chegando em uma sala cuja grade havia sido arrebentada, Alexandre foi arremessado para o chão diversas vezes. Uma, duas, três. A cada vez que batia no chão, seu corpo tremia e mal ele podia reaver a consciência, já era novamente arremessado. Após os ferimentos começarem a surgir em seu corpo, o Carrasco empurrou seu corpo inerte pelas frestas da grade arrebentada, segurando-lhe pelas duas mãos: o corpo de Alexandre ficou exposto, de modo que Aninha Jatobá pudesse vê-lo do pátio da penitenciária. Ela calculou o ângulo e fez um sinal afirmativo. O carrasco então soltou o primeiro braço. Alexandre ficava preso por uma mão só, o corpo distendido, o peso de toda a sua culpa sendo segurado apenas por uma mão. Primeiro a mão direita liberada, depois a mão esquerda, e Alexandre caiu no vazio não sem antes balbuciar a palavra ‘perdão’.

Obs: quando a rebelião foi contida e o Carrasco e o travesti Aninha Jatobá foram questionados se eram ou não autores do crime, eles negaram veementemente, dizendo que havia alguém no edifício que fora responsável por jogar Alexandre daquela altura. Sem conseguir conter o riso, entretanto, um repórter questionou se fora um possível ladrão. Aninha Jatobá não perdeu a classe, nunca perdia, e replicou que ladrões numa penitenciária são o que não falta.


3 comentários:

Anônimo disse...

è mto ruim dar risada disso?
tah.. eu ri mtoo!!
mtobom

Laura disse...

Há gostei, muito criativo Leu.

Andressa disse...

ahah que horror Leo! Nossa, não sabia que vc tb escrevia coisas desse naipe, haha... sempre nos surpreendendo com suas malukices né queridão? beijos