quarta-feira, 31 de março de 2010

Nostalgia

1) Encontro, hoje, um conhecido no metro. Nos cumprimentamos, conversamos sobre a faculdade, como vai seu curso, como vai o meu. Rumo ao Tucuruvi, descemos a escada, vou para Santana e ele para a rodoviária. De repente, no meio do caminho, não uma pedra, mas uma saudade: tenho saudades dessa estação, quando estudava por aqui era aqui que descia, diariamente. Não estudei com você, mas te entendo. Também sinto saudades. Alguém no vagão me conhece? Morar nessa cidade de algum milhão de habitantes não contribui para identificação mútua, reconhecimento de sentimentos, talvez ninguém ali que rumava à Zona Norte tivesse ligação com minha escola no Ipiranga.


2) Hoje encontro Éric no metro e ele me faz lembrar de uma saudades que nada tem a ver com ele. Um encontro bastante casual, e conversamos sobre coisas amenas – passando em frente a estação Armênia, ele afirma sentir saudade da sua escola que se localiza próxima a estação. Não estudamos juntos durante o Ensino Médio, mas conheço sua sensação e naquele momento exato, quando ele desce do metro na estação seguinte, me angustia estar sozinho sentindo essa saudade também daqueles três anos que já começam a se apagar em minha memória e cogito ligar para Mirrah para falar sobre isso, mas as implicações práticas impossibilitam efetivar esse desabafo (não tinha créditos no celular)


3) Chegando no lugar onde deveria descer, levanto-me do banco e reparo que eu conheço aquele rapaz de óculos que estava frente a porta: Eric, conhecido meu, amigo de uns amigos. Qual é a chance de encontrar uma pessoa no metrô? Alguém que não tem a sua rotina, não faz os mesmos caminhos de você, em uma semana que gira em torno de um feriado e quase não funciona – Eric e eu, coincidentemente, estamos indo para a Zona Norte, e no meio do caminho entre o meu destino e o dele existe a Escola Técnica Federal, onde ele estudou, e que deixou saudades. Ele comenta, eu me lembro. Também tenho saudades da Escola Técnica Estadual Getúlio Vargas. Tenho saudades daquelas pessoas todas, daquelas cenas todas. Ele sai do vagão, se despede, e o Caetano começa a cantar em meu ouvido It’s a long way, it’s a long way. Precisava falar com alguém sobre aquilo, só a Mirrah me entenderia naquele momento, mas ela não estava lá, estava longe, em outro ponto da cidade. Nem eu sabia direito o que estava fazendo por ali, uma reportagem em um lugar que eu sabia que não me daria a informação necessária.


4) Estamos no vagão, conversando, e olho a janela que se estende a frente, o céu cinzento que anuncia uma chuva torrencial, uma enchente, um alagamento, um dilúvio em São Paulo que irá apagar as memórias físicas, nossos lugares todos, as passagens por onde passamos serão inundadas, lentamente, (os escafandristas irão explorar sua casa, seu quarto, suas coisas, sua alma, seus planos), e frente a janela quando o trem explora a superfície, Eric encontra um caminho próximo e se lembra que estudava por ali, e sente saudade, e me faz lembrar que saudade é acima de tudo falta, e eu sinto falta daqueles dias, as manhãs assim tão de graça, o pátio de cimento queimado onde eu deitava, sentada, dormia sem qualquer preocupação, a sala do grêmio com os pufs verde e vermelho, as reuniões, e lembro da Mirrah e quero conversar com ela naquele momento para saber se ela também sente falta daqueles dias onde a gente se empenhava tanto em acreditar que as coisas poderiam ser diferentes.

3 comentários:

Caiao disse...

"you say about waking up in the morning but you're never up before noon... pá pá pá pá..."

Caiao disse...

That's what's rock'n'roll is all about!

companheira cronópia disse...

ao pranto