sexta-feira, 16 de abril de 2010

Essa ingrata profissão.

Voltando da lanchonete que se localiza no prédio de Artes Cênicas, eu e mais duas amigas conversávamos sobre os cursos. Das Cênicas ao prédio de Jornalismo, passamos por todos os cursos da faculdade: Artes Plásticas, Música, Cinema, Publicidade, Relações Públicas e enfim chegamos ao nosso. Fazendo observações à respeito de cada uma daquelas profissões, descobrimos que a nossa em questão é a mais mal remunerada, a mais mal vista e que mais põe em cheque as convicções ideológicas e ética do profissional.
De certo modo sinto que existe uma injustiça cometida por algum orgão invisível com o jornalista. Esse profissional que historicamente ganha mal, que muitas vezes é enxergado como um fofoqueiro da história, um inconveniente, é ainda por cima um cara que adquire todos os problemas da sociedade para si sem, entretanto, ter alguma vantagem com isso além de um hipotético alívio de consciência. Um outro amigo da faculdade diz que não se deve cobrar reconhecimento por atuação social, se não isso vira caridade. E concordo. Entretanto, trabalhar em prol de uma sociedade que mal valoriza seu trabalho é dose.
Chegando ao nosso prédio, fomos para uma aula que diz respeito à legislação, ética profissional, enfim. Segundo o professor, no meio de sua explanação, o intelectual é o ser que não possui acordos com as grandes empresas. "Desconfiem de jornalistas que fazem par com a grande imprensa", disse ele. De fato é uma questão decorosa, essa. Discutida em todos os debates dos quais tenho participado, núcleos de discussão sobre o curso, fórum disso, daquilo, enfim, ódio à grande imprensa. E eu realmente discordo da maioria das posturas que ela adota dentro das possibilidades midiáticas que nos são oferecidas. Mas aí, somado à todos os outros fatores que já inoportunam nossa profissão, aparece o fato de que os bons empregos disponibilizados no mercado estão contaminados por uma indecência mercadológica tremenda. Desse modo, não sobra muita saída ao jornalista, principalmente aquele formado em universidades públicas que tem constantemente o contato com os problemas sociais enfrentados por instituições do gênero.
Ora, somos mal pagos, nossa conduta é sempre discutível e discutida e quando temos a oportunidade de ganhar razoavelmente bem ou ter uma carreira estável, precisamos necessariamente deixar de lado qualquer convicção que nos tenha motivado (e que me motivou, sim, sendo bastante sincero, a escolher essa carreira) e pôr a consciência que nos resta à prova. Soluções para a prática do bom jornalismo sem aliança partidária ou sindical, com a certeza de que será possível pagar uma prestação no fim do mês e que nos sobre, ainda que um pouquinho, a sensação de estar fazendo algo de bom para a sociedade... alguém sugere?

3 comentários:

Renata disse...

Acho que essa convicção de que os bons empregos estão aliados a um mau caminho ético é furada. Primeiro porque não é nem de perto culpa do jornalismo, mas sim da estrutura da sociedade, que alimenta esse tipo de coisa. E é a grande imprensa que paga bem, que dentro dela você tem a oportunidade de viajar, de fazer matérias legais, e ganhar bem, de ter bons contatos. A grande imprensa é uma vitrine profissional, poxa. Você ganha nome no mercado. Se tiver condições psicológicas leia "Sempre Alerta", de um cara que trabalhou na Folha/Estado durante as reformas editoriais. Obviamente, no jornalismo os jogos de interesses ficam bem claros, mas ainda tenho esperança de poder fazer um bom trabalho. Lembra que alguém te disse que "coisas pra te desanimar não vão faltar"? Então, o jornalismo é desmotivação full time, mas se for desistir de tudo, a gente acaba desistindo de viver mesmo. Ou não.

companheira cronópia disse...

vou pensar na pergunta e se achar uma resposta respondo pessoalmente

Unknown disse...

Leo,
eu entendo muito bem tudo o que você está sentindo. Um professor meu me disse, sobre esse assunto, "Apenas tenham consciencia do que vocês estao fazendo". O que para mim é ainda mais frustrante. Infelizmente não sei o que te responder, mas quando descobrir a resposta me avise.