quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Vestibular, universidade e mais um tropeço do governo.

Sou, efetivamente, um recém aprovado em um bastante concorrido vestibular. Eu me lembro, entretanto, que durante todo o processo (bastante árduo) de estudo e preparação para a famigerada Fuvest, prometi que eu nunca deixaria de questionar esse sistema e gerar discussões à seu respeito, mesmo tendo sido aprovado. Os programas de inclusão social e educacional dos últimos governos brasileiros denotam uma grave característica dos serviços públicos do país, que é a priorização do discurso político frente à qualidade do serviço prestado, implicando na realização do que é mais rápido em prol do que é mais completo. Em discussão recente com um amigo, ele me chamou atenção para um fato bastante relevante: a progressão continuada, herança do governo Covas na educação no estado de São Paulo visava, acima de tudo, obter um alto índice de brasileiros em idade escolar dentro da sala de aula, afim de justificar os empréstimos concedidos pelo FMI e outros bancos internacionais que aparentemente seriam destinados à educação.
Em se tratando da educação como um todo, seria impossível não se prender ao estado de São Paulo onde a gestão Serra causou mais impactos do que as medidas supranacionais provenientes do PAC e do governo Lula. Em 2007, quando eu ainda estudava no segundo ano de uma até então ETE (Escola Técnica Estadual), ocorreu a chamada “privatização” das mesmas. Explico: transferindo as escolas técnicas do Centro Paula Souza da Secretaria da Educação para a Secretaria da Industria e Desenvolvimento, as mesmas sofreram uma redução na verba recebida e tornaram-se mais dependentes ainda do capital privado. Na época eu fiquei bastante revoltado com a situação, participei de manifestações e protestos, afinal de contas eu cursava apenas Ensino Médio, o curso mais sensível de qualquer escola técnica, passível até de ser extinto. Hoje mantenho minha opinião sobre assunto, acho que escolas públicas são dever do Estado sob qualquer circunstâncias, sendo elas técnicas ou não. Entretanto, percebo que o apoio da indústria é essencial para o ensino técnico e para isso basta ver as recentes escolas técnicas criadas, desde a primeira dessa “nova onda”, a Etec Parque da Juventude, no Carandiru até as mais novas que ainda serão entregues (Etec São Mateus, Vila Formosa, etc...). A infraestrutura e a popularização do ensino técnico propiciada pela Etec Getúlio Vargas, uma das mais velhas do Centro Paula Souza e onde eu estudei é infinitamente inferior à dessas novas unidades.

Mas gostaria ainda de voltar à discussão do vestibular. Em 2009, com o advento do novo formato do Enem e a sua utilização como forma de ingresso em algumas universidades federais do país, a polêmica gerada deu margem à uma série de questionamentos. Dentro do curso pré-vestibular, ouvi coisas como “o governo federal quer acabar com os cursinhos”, argumento totalmente equivocado uma vez que não haveria interesse algum do governo em extinguir tais instituições. Mas a polêmica do Enem continuou com o cancelamento da prova, conseqüência de seu vazamento, denotando o despreparo e a falta de cuidado do Ministério da Educação quando se trata desse assunto. Posteriormente, vi alguns colegas passarem horas e horas frente ao computador na tentativa de conseguir alguma vaga dentro do chamado SISU (Sistema de Seleção Unificado), e foi então que eu percebi o quanto esse programa é equivocado e acima de tudo, uma ponte para aumentar o número de universitários no país sem se preocupar com seu real desejo: com a possibilidade de se disputar mais de uma vaga em mais de uma universidade, vi alguns colegas (concordo que foi uma opção deles, mas enfim) se inscreverem em cursos que não necessariamente eram o que eles desejavam mas sim o que sua pontuação no Enem lhes permitia alcançar; desde uma garota que sempre quis estudar Direito e entrou em Química na Unifesp até um amigo que, como eu, prestou vestibular para Jornalismo e vai fazer Letras na UFPR. Portanto, para mim o SISU nada mais é do que uma forma de empurrar alunos não-aprovados nos outros vestibulares para vagas até então não preenchidas em universidades federais espalhadas pelo país afora. Aparentemente isso é bom, uma vez que teremos mais jovens inseridos no contexto acadêmicos. Mas a pergunta é: no país onde o trabalho é sinônimo de obrigação e o número de maus profissionais é cada vez maior, é realmente uma boa iniciativa incentivar jovens de uma determinada área a seguir outra?
Discordo terminantemente do vestibular como ele é aplicado hoje em dia. Discordo mais ainda de cotas (apesar de ter sido um beneficiado por elas, porém não decisivamente) e vagas reservadas para alunos negros e oriundos da rede pública, pois são elas as justificativas atenuantes (e bastante panfletárias, por sinal) de que o governo federal se preocupa com essa fatia do corpo estudantil brasileiro. Mais ainda, acho que o SISU não foi e nem será uma ajuda para os estudantes brasileiros que visam ingressar na universidade, mas sim mais uma daquelas ações tomadas pelo Ministério da Educação que “resolvem” o problema na superfície, mas não arrancam sua raiz.

3 comentários:

Juliana disse...

Então, concordo com o que vc disse, acho que realmente a educação é um priblma falho no nosso pais

Paulo Languini disse...

Bela análise, continue fazendo análises tao boas assim da situação! parabéns futuro jornalista"!000000000000000

companheira cronópia disse...

...é tudo uma questão de retomada de movimento...