sábado, 11 de setembro de 2010

Estomazil.

Me diga já o que foi que aconteceu, eu cantarolava enquanto ajeitava o edredom e a manta - desconfortável estava meu estômago, auqela conhecida queimação que sobe pelo esôfago e desemboca em um calor incômodo no começo da língua. A essa altura eu já estava arrotando azeite e sofria como consequência. Loucuras gastronômicas pela madrugada afora, iluminadas pelo 3:30 do visor do microondas, ai que eu continuo com essa vergonha de comer na frente alheia e seguro minha fome até que ela me vire um bicho em plena madrugada. Debruçado na pia, meio suado, lavando o rosto em água gelada. Cabeça embaixo da torneira. Viro a boca para cima, sorvendo a água gelada ou o suor mesmo, já não sei. Maçã com molho inglês, café com pimentão, penso três vezes: não sou normal, não sou normal, não sou normal, e depois me olho no espelho e repito outras três vezes em voz alta. Tudo ácido, tudo verde limão como num tornado violento que corrói o que há de mais delicado dentro de mim. Havia tirado a mistura do fogo, bebido rapidamente, ai eu quero me matar eu penso, de remorso, vou tomar manga com leite, posso, quem sabe, dormir pelo menos. Ainda nessa madrugada, mais três vezes ao banheiro, três vezes a cabeça embaixo da torneira e a boca virada, foco de incêndio frente à mangueira de bombeiros: hidrante escusado de sua tarefa original. Arrastando correntes pelo corredor, subindo um lance de escada, alisando paredes, sorte não morar em apartamento, assim tenho bastante espaço para percorrer e na terceira vez que ergo a cabeça, depois do jato d'água fria, eu me olho no espelho e não me reconheço mais. Pequeno monstro.

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