sábado, 18 de setembro de 2010

Amors

O amor invadiu meu corpo, em busca de espaços. Ele todo era uma falta, um por vir imenso, e me invadia e deixava cheio de buracos para formar espaços. Ele invadiu também minha casa e mudava os móveis de lugar para se encaixar, para que coubesse, ele tirava as visitas do sofá e das poltronas para que sobrasse espaço. O amor quando veio me deixou vazio, aumentando o raio de cada poro, ele foi vazando por espaços, ele nunca preenchia nada. Fui me tornando oco, um ser sem nada, porque respeitava sua vontade – esse amor que se anunciava, ele me dizia que quando chegasse de vez seria com uma violência tamanha que se não tivesse um espaço só seu bem definido, iria arrebentar com meus órgãos internos, com meu pulmão, com meu estômago, e eu com medo fui deixando ele se fazer e ele se fazia assim, devagarinho, tomava cada trecho de mim numa cadência cada vez mais ousada. Assim, eu hoje olho minhas fotos e vejo quadrados brancos, vejo minha face apagada, me vejo sem mãos, sem olhos, me vejo vazio nas fotografias da parede e quando me perguntam o que é aquele vazio, eu não hesito em dizer: é o amor. Que me toma por seu abrigo, que me acreditou ser uma caixa de proteção, uma segurança, que me apaga prometendo sensações – essa borracha invertida, esse pedaço de vida que virou esse eterno pedido. Já não consigo me dissociar mais de meus vazios: hoje sou um homem semi completo por ter cedido espaço, me apertado numa luta de mim contra mim dentro de mim para que esse amor em mim coubesse: eu espero. Hesito, mas espero. Com ele viriam músicas, viriam sons, gemidos, viriam com ele algumas dores e até um pouco de morte: ainda sim, espero: vazio. Semicheio. O amor corrói como uma palavra atravessada e já não tenho mais garganta para agüentar travos de palavras ou encontrar novas interpretações: sou isso, pela metade, e vou sendo esperando essa peça do avesso e do contrário para tirar de mim esse amor todo e transformá-lo em: pessoa.

Um comentário:

dorinha disse...

Adorei leozito, muito bom mesmo, fazia tempo que não passava aqui. Posso ficar sem visitar algum tempo, sei que sempre que vier vai valer a pena.