quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Curitiba de esquina

Fui dar em Curitiba, que se encontra no meio do caminho entre são Paulo e meu destino final no sul do país, e encontrei aqui uma cidade de centro interessante, um centro que mistura uma arquitetura clássica com prédios modernistas, ópera de arame, jardim japonês, casas de inverno, e passeando pelos arredores do hotel eu pensava em Dalton Trevisan e nos contos de O vampiro de Curitiba e tentava imaginar Curitiba no inverno e seus personagens caminhando solitários pelas ruas. Tão logo o sol surgiu no meio do dia chuvoso, lembrei que Curitiba era também berço de Leminski, saudado Leminski, cujos poemas me lembram os pensamentos que eu tenho na hora e sempre esqueço depois. Continuei na Avenida Barão de Rio Branco e, na esquina, com a Rua São Francisco, encontrei um sebo grande, amplo, convidativo: os livros arrumados nas prateleiras, nas estantes, um cheiro de incenso, pouco pó, diferente dos sebos da Liberdade ou da República, em São Paulo, aqueles onde eu mal entro e inicio minha interminável sessão de espirros. O que manda, guri, me pergunta o cara. O cara tem um sorriso na voz, sequer me olha, mas foi simpático: eu respondi, nada. Como sempre: do mesmo modo que outros respondem "só estou olhando" para vendedores de lojas de roupa no natal, eu respondo quando entro em sebos. Porque de fato, nada estou procurando: estou à espera de um achado, tão somente. E achei - um livro do Leminski. Antologia poética; poemas e análises críticas, por dez reais. Saio do sebo feliz, viro uma esquina, tomo um sorvete, observo: de longe, os curitibanos esperam seus ônibus nesses tubos transparentes, protegidos da chuva e do trânsito. Uma maneira confortável, eu penso, e acolhedora de se pegar um ônibus. Encaro os prédios do centro da cidade, de esquina: olho janelas. Penso: será que Leminski morava em um deles?

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